Peter Lund, sua obra e seu tempo
Olhar crítico sobre Peter Lund
Paleontólogo e cientista é tema de palestra que Ana Paula Almeida Marchesotti  no Museu Abílio Barreto, na noite de 31 de outubro 2006
Trabalho sobre Peter Lund relaciona seus estudos ao conhecimento científico de seu tempo. 
Nem o mito do pioneiro à frente de seu tempo nem o cientista defasado com relação a teorias científicas. Mas um homem que foi representante de sua época. É assim que Ana Paula Almeida Marchesotti apresenta o paleontólogo Peter Lund (1801-1880), em palestra hoje, no auditório do Museu Histórico Abílio Barreto.
É dela biografia inédita, trabalho para mestrado em história, que relaciona os estudos do pesquisador com o conhecimento científico de seu tempo.

A crítica a Peter Lund remete ao fato de ele não ter adotado a teoria evolucionista de Darwin, paradigma da ciência moderna que, como o nome indica, afirma a transformação gradual das espécies. Seria refém do catastrofismo, tese segundo a qual as espécies modernas teriam surgido após grande catástrofe que teria eliminado as antigas. “A obra de Lund mostra que há momentos em que ele está mais próximo de uma idéia e, em outros, de outra”, observa, dizendo que é preciso entender o cientista no tempo dele.

“Se Lund não deu um salto com Darwim também não ficou tão preso assim ao catastrofismo”, pondera Ana Paula Almeida. Ambigüidade entre teorias, explica a professora, características que não são só de Peter Lund, mas do tempo dele. Momento-chave – meados do século 19 – para a história natural quando se afirma a teoria evolucionista. E, garante a professora, observar Lund contextualizando suas realizações, não tira em nada sua grandeza de cientista que, durante muitos anos, morou e fez suas pesquisas em Minas.

“Peter Lund é o pai da paleontologia brasileira. Foi o primeiro a estudar e analisar os fósseis encontrados no Brasil. Antes dele, viajantes apenas faziam referência ao material”, explica. Estudos que resultaram em descobertas de repercussão mundial, inaceitáveis para a época e só confirmadas pela paleontologia moderna. Como a conclusão de que o povoamento da América é muito mais antigo do que se pensava ou de que o ser humano co-habitou com a megafauna, quando se acreditava que ele teria aparecido após a extinção dela.

Motivo, ainda, da grande audiência internacional para o trabalho de Lund, é o fato de ele estar trabalhando em um lugar (a América) que é foco de interesse de cientistas de todo mundo, já que havia possuído, na pré-história, zoologia mais rica do que a da Europa. E em momento em que está acontecendo intensa discussão sobre a origem das espécies e do ser humano. Desafio posto, hoje, segundo Ana Paula, é trazer para o Brasil (“e traduzir”) parte do acervo que está na Dinamarca (cartas, correspondências etc.), “material rico em informações sobre o Brasil e a época”).

Fonte: Jornal Estado de Minas - 31 de outubro de 2006
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