Gruta da Lapinha recupera o seu brilho



Depois de mais de 15 dias fechada, a Gruta da Lapinha, localizada a 53 quilômetros de Belo Horizonte, na região de Lagoa Santa, está aberta novamente para visitação. O local foi interditado por causa do furto de fios de cobre que deixou a caverna completamente no escuro. Com o brilho de volta, a Lapinha é um lugar fantástico para quem quer passar um fim de semana tranquilo e rico em história.
Por fora, um lugar agradável e pitoresco com quiosque e muito verde em volta. Por dentro, um lugar cuidadosamente esculpido pela natureza e de uma beleza extraordinária. A gruta, que tem 511 metros de extensão e 40 metros de profundidade, tem 15 salões abertos à visitação. Cada um recebe um nome de acordo com o aspecto das formações rochosas. As estalactites e estalagmites - sólidos minerais que se formam no teto e chão, respectivamente, resultante de água e calcário, constituem desenhos nas rochas de dar inveja a qualquer escultor talentoso.
O salão da Cascata, por exemplo, é considerado pelos visitantes em geral como um dos mais belos da gruta. A cena lembra perfeitamente uma cascata com queda longa e densa. Já o Salão da Catedral, como ressaltou a arqueóloga Rosângela Albano, é o maior e dos mais interessantes. Tem aproximadamente de 15 a 20 metros de extensão. No espaço, cada detalhe deve ser observado meticulosamente. Para alguns, as formações se assemelham a obras do Barroco mineiro. Em um dos corredores de passagem, um 'Abajur' deixa qualquer designer inspirado. No teto, uma das formações tem a forma arrojada deste objeto com a diferença de que este deve ter levado, no mínimo uns 500 anos para se formar. “Cada centímetro dessas formações demora cerca de 25 anos para crescer. É realmente uma beleza concentrada", enfatizou Rosângela Albano.
Outro destaque é o Salão dos Índios. Nele, as rochas formam o desenho de faces que se assemelham a de índios. “O vento ajudou a esculpir os rostos", ressaltou a gerente da Secretaria de Turismo de Lagoa Santa, Flávia Viana. Ela, que já atuou como guia da gruta, acompanha todos os trabalhos relacionados à Lapinha e vibra com a reabertura do local ao público.
Na gruta, observa Flávia Viana, outras tantas maravilhas podem ser apreciadas. Até mesmo um véu é possível ver em um dos corredores da caverna. Com um caimento e brilho impecável o véu enfeita uma das paredes da gruta. Ao lado deste, é possível ver também uma formação semelhante a bolos servidos em casamentos. Há ainda os salões do Presépio, Pirâmide, Tambores, Carneiros e de Peter Lund - este último, chamado assim, porque, dizem, era o local onde o cientista Peter Lund, descobridor da gruta, gostava de ficar.


Um passeio bem perto de BH

Descoberta em meados de 1835 pelo cientista Peter Lund, a Gruta da Lapinha chega a receber cerca de 300 visitantes nos finais de semana. A visita, que pode ser feita todos os dias de 9h30 às 17 horas, é facilitada por escadas de ferros e pela iluminação subterrânea. De acordo com a arqueóloga Rosângela Albano, a Lapinha foi a segunda caverna descoberta em Minas Gerais por Lund. A primeira foi Maquiné em Cordisburgo.
“Dentro da gruta não foram encontrados fósseis mas na sua área de abrangência foi descoberto o primeiro fóssil humano que viveu na região há 12 mil anos e depois outros da mesma época. É importante destacar ainda que a Lapinha, que tem mais de 700 metros de extensão (511 metros abertos à visitação) mantém fauna característica, como morcegos e insetos", disse a arqueóloga. O turista deve ter consciência e não tocar nas formações rochosas da caverna. Delicadas, as estalactites e estalagmites demoram milhares de anos para atingir um tamanho razoável. Para entrar, o visitante deve pagar R$ 5,00 sendo monitorado por guias locais.
Em janeiro, a visita na Lapinha foi limitada porque fios de cobre começaram a ser furtados impedindo a entrada em alguns dos 14 salões. Durante o período do carnaval, a gruta foi fechada pois toda a fiação subterrânea foi roubada. “Os bandidos entraram por uma fenda da gruta e chegaram a depredar uma das formações", disse Flávia Viana da Secretaria Municipal de Turismo.
De acordo com o delegado Marco Antônio de Paula Assis, no final da semana passada três suspeitos foram presos. O local foi reaberto à visitação no último sábado. Para oficializar a reabertura da gruta, uma festa está sendo programada para o próximo final de semana. “Na área de lazer, do lado de fora da gruta, vai ter dança folclórica, exposição de artesanatos e outras atividades. A entrada será liberada para a visitação", adiantou Flávia Viana.

Outras Grutas:

De acordo com a Secretaria de Turismo de Minas Gerais, mais de 500 cavernas já foram catalogadas no Estado. Além da Gruta da Lapinha, formada pela ação das águas sobre rocha calcária, outras duas são bastante conhecidas e visitadas: Maquiné (localizada em Cordisburgo) e Rei do Mato (localizada em Sete Lagoas).
A de Maquiné, a 130 quilômetros de Belo Horizonte, tem 650 metros de extensão sendo 440 metros abertos a público. A Gruta Rei do Mato, distante 62 quilômetros da capital, tem 998 metros de extensão sendo 220 abertos a visitação. É considerada por cientistas, como 'uma gruta viva' por ainda estar em formação pelas águas e calcário.


Quem foi Peter Lund
O desbravador de cavernas

Editoria de Pesquisa e Texto

Uma visita à Lapinha é também um passeio pela história de um dinamarquês que é conhecido como o pai da paleontologia no Brasil. Nascido em Copenhagen, capital da Dinamarca, Peter Wilhelm Lund (1801-1880) mudou-se para o país fugindo do clima nórdico, temeroso da tuberculose que vitimara dois irmãos. Fixou residência em Lagoa Santa. Nas cavernas da região - e aí incluindo a Lapinha -, descobriu mais de 12 mil peças fósseis que permitiram escrever a história do período pleistoceno brasileiro - o mais recente na escala geológica - numa época em que o passado paleontológico era quase desconhecido pela ciência.
Além dos fósseis, Lund descobriu as ossadas do chamado “homem de Lagoa Santa", que puseram em xeque uma série de pressupostos aceitos pelos então incipientes estudos da evolução humana.
O paleontólogo também é reconhecido como pai da arqueologia e da espeleologia, pioneirismo extensivo às três Américas. Foi o primeiro a assinalar a presença de sambaquis - depósitos de conchas e esqueletos amontoados por tribos selvagens - e inscrições rupestres, além de descrever instrumentos de pedra encontrados. Ele foi ainda o primeiro a localizar e entrar em algumas das mais de 800 cavernas que explorou.
Cavalos, diversos carnívoros como o tigre-dentes-de-sabre e o cachorro das cavernas, preguiças, capivaras e o tatu gigantes são apenas algumas das espécies que tiveram fósseis descobertos pela primeira vez por Lund. Ainda hoje, Lund é a principal referência para estudiosos da paleontologia de mamíferos no Brasil.

fonte: Jornal Hoje em Dia - edição de 07/abril/03
Repórter: Jaqueline da Mata

Imagens: www.lagoasanta.com.br