Um mestre da paleontologia

Com locações programadas para serem feitas em Lagoa Santa, Belo Horizonte, Cope- nhague e Estocolmo, o cineasta mineiro Fernando Camargos, radicado já há oito anos em Brasília, começa a filmar, agora no início de outubro, o primeiro dos quatro capítulos da minissérie vídeo digital Peter Lund, Brandt, Warming e o Homem de Lagoa Santa .
Com um tempo total de duração previsto para 104 minutos, a minissérie, que será exibida pela televisão, via Canal Escola além de programas em DVD e divulgação na internet, irá mostrar como vivia uma tribo pré-histórica que existiu em Lagoa Santa há alguns milhares de anos. O programa trará também um pouco da vida, da obra e a passagem pelo Brasil no século XIX, mais especialmente por Minas Gerais, do naturalista dinamarquês Peter Lund e do seu companheiro de trabalho, o pintor naturalista Peter Brandt.
Outro personagem menos conhecido a fazer parte da história será o botânico Eugene Warmig. Também irão ser reconstituídos de maneira real, através de computação gráfica, segundo conta Fernando Camargos, animais pré-históricos com as preguiças gigantes, os toxodontes, os tigres-de-dente-de- sabre, os tatus gigantes, a exemplo do que Spilberg fez em Jurassic Park , compara.
Já aprovado pela Lei do Audiovisual, pela Lei Rouanet, e contando ainda com o apoio dos ministérios da Educação e da Cultura, da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais e da TV Escola, o lançamento do projeto, que foi orçado em cerca de R$ 600 mil reais e ainda está em fase de captação de parte dos recursos coincide também com as comemorações, iniciadas em junho desse ano, dos 200 anos de nascimento de Peter Wilheim Lund. Considerado o pai da paleontologia brasileira, Dr. Lund, como ficou conhecido em Minas, onde viveu de 1830 até à sua morte, em 1880, percorreu várias partes do Brasil estudando fosséis, animais pré-históricos e plantas.
Mas foi em Lagoa Santa, onde está enterrado, que ele encontrou, além de ossadas humanas com mais de 12 mil anos, também esqueletos de vários animais pré-históricos. Ao seu lado, registrando tudo através de desenhos, nanquins e aquarelas, estava o pintor norueguês Peter Andreas Brandt.
Já o botânico Eugene Warming, que também viveu em Lagoa Santa de 1863 e 1866, onde foi orientando do Dr. Lund em sua tese de mestrado teve, na visão de Fernando Camargos, uma importância grande dentro da história da botânica brasileira , por ter sido o fundador da chamada ecologia vegetal, com seu livro Lagoa Santa Comunidade das Plantas , que foi lançado em 1885.
Fernando Camargos é mineiro de Estrela do Indaiá e em 1987 foi viver na Alemanha, onde ficou um ano e meio e acabou vendendo o seu primeiro filme, sobre o músico mineiro Marco Antônio Araújo. Ele também é diretor de Uma vida dividida , através do qual contou a trajetória do cineasta sueco Arne Sucksdorff, que viveu 30 anos no Pantanal do Mato Grosso.
De volta ao Brasil, há cerca de seis anos, começou então a pensar mais seriamente no projeto de registro da saga de Peter Lund, que agora começa a tomar corpo, com o início das filmagens e previsão de lançamento para maio do próximo ano. A propósito, já estão sendo feitos testes de seleção entre pessoas de 8 a 30 anos, para trabalharem como membros da tribo do Homem de Lagoa Santa. Mais informações podem ser obtidas através do e-mail: aldeiafilm@hotmail.com.

Fonte: Estado de Minas 19/setembro 2001 - Carlos Herculano Lopes