Leia os capítulos da novela: Pampulha x Confins

Mudança irrita passageiros
Proposta do Departamento de Aviação Civil de transferir vôos da Pampulha para Confins confunde companhias aéreas, desagrada os usuários e pode afastar os turistas da capital

Renato Weil

Localização privilegiada faz do aeroporto da Pampulha o preferido dos empresários, executivos e turistas

A 45 dias da transferência dos vôos do aeroporto da Pampulha para o terminal de Confins, a 36 quilômetros da capital, passageiros, principalmente empresários e executivos, que usam ponte aérea rumo às principais cidades do País, como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, não se conformam quando lembram o tempo e o dinheiro que vão gastar para o deslocamento do Centro de BH até o aeroporto. Além da distância, o acesso se torna mais difícil por causa do trânsito em vias ultrapassadas e de pouca vazão.

Por outro lado, a mudança de vôos para Confins, discutida a partir de 17 de agosto deste ano por representantes do Departamento de Aviação Civil (DAC), governo do Estado, Prefeitura de Belo Horizonte, Infraero e todas as empresas que operam nos dois aeroportos da capital, conforme nota divulgada pelo próprio DAC, contraria a portaria 821/2004, publicada dia 5 do mesmo mês, no Diário Oficial da União, que destina o Aeroporto da Pampulha aos vôos regulares com os aeroportos de Congonhas (São Paulo) e Santos Dumont (Rio), o que facilita a vida de quem, obrigado pelos negócios, faz duas ou três vezes por semana trajetos entre as capitais.

Outra situação que deixa passageiros apreensivos é a falta de informações sobre a transferência de vôos. As empresas aéreas ainda não foram notificadas oficialmente sobre as mudanças no tráfego de aviões. A partir do dia 1º de dezembro, quem viajar com freqüência para capitais como Brasília, Rio e São Paulo, com embarque em Confins, terá que antecipar em pelo menos uma hora a saída de casa. E, se for se deslocar de táxi, deve preparar o bolso. Tudo por causa da distância que separa a capital mineira do terminal de Confins, "viagem" que pode durar até uma hora, se o trânsito estiver bom.

"Essa transferência atrapalha o turismo empresarial e vai varrer Belo Horizonte da rota dos negócios do Brasil"
Lúcio Costa, presidente da Suggar Eletrodomésticos


Segundo o presidente da Suggar Eletrodomésticos, Lúcio Costa, chegar a tempo a um compromisso no Rio de Janeiro pode demandar tantas horas quanto uma viagem terrestre. Ele diz que um empresário poderia levar até seis horas para se deslocar de Belo Horizonte ao Rio, somando o tempo gasto do Centro da capital até o aeroporto da região metropolitana, ao prazo regulamentar de apresentação para embarque e ao deslocamento do Galeão até o Centro da capital fluminense, o mesmo tempo de uma viagem de carro. "Assim, seria melhor ir de carro. Gastaria menos com gasolina e pedágio do com táxi entre as cidades e os dois aeroportos", afirma Costa.

CORRIDA Uma corrida de táxi do Centro de BH ao aeroporto da Pampulha fica hoje em R$ 20. Do Galeão ao Centro do Rio são mais R$ 78. Se ficar confirmada a transferência dos vôos, Costa sabe que gastará cerca de R$ 80 de táxi até Confins. Ou seja, R$ 60 a mais. Ida e volta: R$ 120, o que já justificaria uma viagem de carro à capital fluminense. "O ideal seria organizar a Pampulha para que os vôos para Rio, São Paulo e Brasília continuem saindo de lá. Essa transferência atrapalhará o turismo empresarial e vai varrer Belo Horizonte da rota dos negócios do Brasil. Afinal, esta mesma distância será enfrentada por quem chega à capital", explica o empresário.

Também para o diretor do Banco Rural, Nélio Brant, a transferência pode prejudicar os negócios na capital mineira. "Vai nos atrapalhar demais, principalmente por causa do trânsito, que é muito intenso na rodovia que liga a capital a Confins, que é pior no início da noite", diz. Ele lamenta ainda que terá que se adiantar para continuar pegando vôos no mesmo horário. "Geralmente, viajo de manhã. Vou ter que acordar umas duas horas mais cedo", afirma Brant. "Tempo é dinheiro e vamos perder muito com essa transferência", diz o presidente da Construtora Castor, Ítalo Gaetani, que também usa a ponte aérea com freqüência.

A falta de informações sobre o que foi discutido depois da publicação da portaria 821/2004 também preocupa os usuários e operadores de transporte aéreo, pois ainda não foi feito qualquer comunicado oficial às empresas e à Infraero se haverá mesmo mudança de vôos e como será. As companhias informam que estão preparadas para a transferência e a Infraero informa que aguarda orientação do DAC. Apesar de estar prevista transferência de todos os vôos de Pampulha para Confins, sobrando para o aeroporto da capital apenas os vôos regionais, a portaria do DAC estabelece que ele tem o objetivo primário de atender às ligações regulares com os aeroportos de Congonhas e Santos Dumont e, secundariamente, de atender às ligações regulares com o aeroporto de Brasília. (ACS)
fonte: Jornal Estado de Minas de 17/10/2004 - caderno GERAIS