Volta à pagina principal Volta ao início do site

Volta à pagina principal
Circulação de Taxis
gera polemica.
Poder Politico Pedagio na MG10
a 10km da Pampulha.
CEMIG tambem erra Proteção contra o câncer Patos e Capivaras
O GARI E O POLÍTICO

Em comum apenas o fato de lidarem com sujeiras. O gari com o sujo material, produto da negligência, ignorância e da má educação social e de falta de higiene dos que vivem em comunidade. O político, bem, o político, não precisa cogitar de coisa suja: quando, todos, no mundo inteiro, vemos e sentimos o charco e a podridão que envolvem aqueles que cuidam da “coisa pública" com as honrosas exceções.
Sabem de uma coisa?
Curiosamente, tenho observado a aparência e o cuidado dos chamados responsáveis pela coleta de lixo, quero dizer da “sujeira pública"; e tenho concluído maravilhas: são limpos, asseados, de barba feita - quando homens -; de cabelos cuidados - quando mulheres -; roupas passadas, lisas, mesmo em meio a toda a sujeira que recolhem.
Isto me fez raciocinar como o grande filósofo alemão, Nietzsche:
“O nojo pela sujeira pode ser tão grande que impede que nos purifiquemos, - que nos “justifiquemos".
É fato, somente quem não teme a sujeira é capaz de limpá-la; pois, do contrário, se tivesse horror à mesma, dela fugiria; e a mesma aumentaria, a tal ponto, que ele se tornaria parte indefesa dela própria.
Vamos, pois, garis, para combater a sujeira, não temê-la; enfrentando-a, para acabar com ela. E, enquanto fazem isto, os banhos habituais, com os sabonetes cheirosos de sempre, os manterão cada vez mais limpos, ao passo que a sujeira não resiste a vocês, que são encarregados de removê-la: parabéns, garis, de todo o mundo; homens e mulheres limpos, e que se tornam ainda mais limpos ao não temerem e combaterem a sujeira do mundo!
Mas, até o momento, nos referimos à sujeira exclusivamente material. Sujeira com que o homem, criminosamente, contamina o próprio ambiente onde vive.
Mas e os políticos? Lembram-se do título: Garis e políticos?
Bem, no início deste artigo frisamos o charco e a podridão que envolvem a “coisa pública" e contamina aqueles que dela cuidam: os políticos, fora as nobres exceções.
Há, contudo, uma diferença essencial entre a sujeira do gari e a sujeira do político: primeiro, que a sujeira do gari não é de sua responsabilidade; pelo contrário, sua responsabilidade é caprichar em sua própria limpeza para não ser vitimado pelo mal causado por outros. Daí, ser um preconceito achar-se que o gari é sujo porque lida com a sujeira: sujo é quem assim pensa; sujo na mente, sujo no coração.
Já na política, lamentavelmente, a sujeira é produzida justamente por aqueles que, demagogicamente, se propõem a limpá-la: acabam aumentando-a, inclusive, inovando-a, com novas formas de sujeiras.
E o pior, se há as exceções - que sempre existem -, elas apenas vêm a confirmar a regra: os bons, ou se omitem - e se tornam piores do que os corruptos -; ou só lhes resta a decepção consigo mesmos, por terem se iludido com a possibilidade de se manterem limpos no meio de tanta e histórica sujeira: e, pior ainda, enquanto os garis dispõem de sabonetes e perfumes que os tornam asseados e contrastantes com a sujeira que combatem, os políticos, cada vez mais, se tornam mais sujos, pois é uma sujeira que os agride por dentro: no nível da consciência, do caráter e da dignidade...
Ao fim de tanta sujeira, enquanto os garis, moralmente garantidos de nada terem com a sujeira que combatem, e até estimulados em sua limpeza, exalam, na limpeza e no cuidado com a limpeza de seus corpos, o sentimento nobre de sintonia com a alvura de suas consciências, onde o lixo material jamais atuará.
Os políticos, ah! Os pobres políticos! Estes, por mais que lavem os corpos, com sabonetes e perfumes caríssimos - seus salários permitem... -, jamais, em tempo algum, removerão o mal cheiro e a podridão que o peso de suas consciências - desde o corrupto ao omisso-fora as nobres exceções - exala fetidamente, desde os corredores palacianos até os banheiros públicos!
Foi exagero, algum ato de injustiça, algo de errado o que aqui escrevemos?
Se foi, que me perdoem os garis pela justiça maior que não lhes fiz.
E, é lógico, as nobres exceções que ainda mantêm a política como o mal mais necessário ao homem, mais que o próprio dinheiro.

(*) Sagrado Lamir David é médico e escritor