SEXO, TÔ FORA

Abstinência subversiva

Em um mundo hipererotizado, uma parte invisível da população abdica do sexo. Não por regras religiosas ou disfunções.

Nem dogma nem doença: por opção, 5% dos brasileiros não têm atividade sexual

Nos últimos anos, pesquisas vieram comprovar que a atividade sexual faz bem não só para o espírito, mas também para o coração (metaforicamente e para a saúde do órgão), aumenta a auto-estima, fortalece o sistema imunológico e melhora o sono. O remédio milagroso ainda tem como “efeito colateral” muito prazer e, com boas doses de charme e sorte, sai de graça.
Sexo, não é nenhuma novidade, é tudo. Mas não para todo mundo. Em um mundo hipererotizado, em que apelos à libido saltam da TV, do computador, das bancas de jornal e outdoors, uma parte invisível da população vive sem quase nenhuma, ou nenhuma, atividade erótica. Não por regras religiosas ou disfunções fisiológicas e psicológicas – mas por opção.

Segundo o livro Descobrimento sexual do Brasil (ed. Summus), de Carmita Abdo, cerca de 5% da população do país não fez sexo nos últimos 12 meses. Está enganado quem pensa que o número corresponde à população da terceira idade, já que medicamentos contra disfunção erétil e terapia hormonal para a menopausa possibilitam uma vida sexual ativa em todas as idades.

A abstinência pode não ser para sempre, mas indica uma decisão. “É comum passar por uma fase sem desejo, ou ficar alguns meses abstêmio por falta de parceiro. Um ano inteiro é opção”, aponta Carmita, psiquiatra e coordenadora do Projeto Sexualidade (ProSex), do Hospital das Clínicas da USP.

A pesquisa coordenada por Camita ouviu 7.103 brasileiros de várias capitais e de algumas cidades do interior, com idade média de 38 anos. Os dados mostram que 7,7% das mulheres e 2,5% dos homens não se interessam por sexo. Em outra pergunta, 4% afirmam que o sexo não é algo tão importante na vida.

Na sociedade ocidental contemporânea, em que o sex appeal e a sugestão de uma performance infalível na cama contam muitos pontos no pacote do sucesso, quem opta por não fazer sexo muitas vezes teme ser encarado como um ET. É natural, portanto, que quem adote a abstinência prefira manter o anonimato (veja depoimentos ao longo da reportagem, em que os nomes foram trocados).

O fato é que muitas pessoas acabam se cansando do jogo sexual que, quando frustrante, em vez de trazer saúde pode ser muito desgastante emocionalmente. Nem todas as pessoas estão dispostas a fazer sexo pelo sexo. “Hoje, ouve-se falar de orgasmo múltiplo, só se vêem corpos esculturais na TV. O homem tem que levar a mulher à loucura. Isso gera uma sensação de cobrança e obrigação que pode deixar o sexo muito desinteressante”, opina a sexóloga Sheila Reis, delegada da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana.

Clarisse Meireles e Maria Vianna

Fonte: Caderno : Vida - Jornal do Brasil - de 26/03/5005