Cuidado com as unhas evita infecções

Houve uma época em que eu vivia com o dedão do pé infeccionado. Tudo por obra e graça de uma bendita unha encravada. Só quem tem sabe o que é isso. O negócio era tão recorrente que não poupava nem férias. Uma vez, em pleno descanso, olha que a bichinha infeccionou outra vez. Naquele tempo, ainda tinha idade para passar a noite com o pé dentro da pia do hotel, como uma cegonha, deixando água quente correr sobre a infecção. E é claro que não tinha nada, mas nada mesmo, para furar a pústula. Com muito custo, consegui um desses acessórios de cachimbo, que tem uma espécie de agulha de ponta rombuda. Serve para dar um pouco de aeração ao fumo, para que pegue fogo. Foi com isso que consegui fazer um dreno na lateral da unha e a dor melhorou. Fiquei com aquele dedo latejando até a manhã seguinte, quando tive que ir para uma cidade próxima, em busca de uma pomada de penicilina para colocar no dedão. Por mal dos pecados, era um domingo de Páscoa e as cidades do interior estavam com tudo fechado. Foi uma áfrica achar uma farmácia aberta e mais ainda conseguir comprar uma pomada sem receita. A chatura do dedo era tão grande que perguntei a um médico amigo, tão logo voltei, como é que podia resolver essa agonia. Ele considerou que retirar a unha não ia adiantar muita coisa. Mas cortar o dedão era uma solução definitiva. É claro que estava brincando porque, na realidade, ele não tinha nenhuma solução para o problema. Solução que consegui depois de alguns anos de sofrimento e alguma pesquisa. Entreguei meu dedão às mãos altamente especializadas de João Milagres, que cuidou dele por bem uns dez anos. E que me fez a falseta de morrer, me deixando na mão. Ou melhor, no pé. Mas não por muito tempo, porque encontrei outra ótima profissional, Márcia, que tomou conta de mim como seu João tomava. Com um plus: me ensinou a usar Andriodermol na unha, o que acabou totalmente com o problema. Nunca mais tive qualquer tipo de infecção na unha do pé, resultado puro da falta de técnica das chamadas pedicures. Tenho ensinado a quem posso esse truque bem simples. O Andriodermol, que é um líquido usado para doenças de pele, tem uma outra serventia, que é amolecer as peles em torno das unhas do pé, facilitando sua remoção e impedindo que a unha fique encravada. Porque quando ela fica menos dura, não enterra na carne. A historinha parece bobagem mas é bem o reflexo de uma situação muito comum no Brasil, que raramente acontece em outros países. Por aqui, manicure tirar um bife no dedo da cliente, como se diz na gíria de salão, é tão comum que os médicos proíbem mulheres mastectomizadas de fazerem unha no salão. Porque a cutícula mal cortada pode infeccionar, com conseqüências bem graves para aquelas que não têm as glândulas linfáticas para defendê-las. Nos Estados Unidos, o problema de salões de manicure é tratado por órgãos ligados à saúde. Nos últimos tempos, a vigilância tem aumentado consideravelmente, porque tem crescido o número de pessoas que procuraram os serviços médicos em busca de cura para infecções provocadas por manicures e pedicures. Na realidade, as autoridades sanitárias dos EUA não consideram os salões seguros. Um ponto delicado refere-se à desinfeção dos aparelhos usados. Os médicos norte-americanos recomendam que, para evitar doenças sérias de contágio, como hepatite e Aids, a esterilização só não é suficiente. Os instrumentos usados nos salões devem ser desinfetados com soluções que matem as bactérias. Melhor ainda: que a usuária tenha seus próprios apetrechos, e que só faça unha com eles. Outra coisa proibidíssima nos Estados Unidos é o uso de lâminas de barbear para remover calosidades nos pés. Essas lâminas podem fazer cortes perigosos na pele, que se tornam um caminho seguro para infecções. As pessoas que têm problemas de circulação ou diabetes são particularmente afetadas. Lá, esse tipo de serviço é, inclusive, proibido pelos órgãos que cuidam da saúde da população. Só profissionais com licença para praticar medicina podem remover a pele de qualquer parte do corpo de uma pessoa. Mas não são poucos os salões que violam essas leis. As bacias onde os pés ou mãos são colocados podem ser agentes infecciosos. Principalmente se a pessoa tem qualquer tipo de corte. As bactérias são espertíssimas, só precisam de um quase invisível corte para encontrar seu caminho. Alguns salões que se preocupam em atender bem usam um saco plástico descartável para proteger a cliente do contato com a bacia, mesmo que ela seja desinfetada entre um uso e outro. Os médicos norte-americanos recomendam aos usuários de salões uma série de cuidados. Alguns são tipicamente americanos, como procurar saber se os atendentes do salão têm licença. Ou lembrar-se que é ilegal retirar calosidade dos pés usando lâminas de barbear. Ensinam que as cutículas só devem ser retiradas raramente, porque qualquer bife pode ser uma porta de entrada para uma séria infecção. Outra coisa é examinar bem a bacia antes de botar o pé de molho para a pedicure. Ela deve ser sempre desinfetada, entre uma cliente e outra. E quem tiver algum tipo de infecção na unha, que procure um médico. A infecção não é problema para ser resolvido em salão de beleza, mas por um profissional competente.
Anna Marina - Cuidado com as unhas evita infecções Houve uma época em que eu vivia com o dedão do pé infeccionado. Tudo por obra e graça de uma bendita unha encravada. Só quem tem sabe o que é isso. O negócio era tão recorrente que não poupava nem férias. Uma vez, em pleno descanso, olha que a bichinha infeccionou outra vez. Naquele tempo, ainda tinha idade para passar a noite com o pé dentro da pia do hotel, como uma cegonha, deixando água quente correr sobre a infecção. E é claro que não tinha nada, mas nada mesmo, para furar a pústula. Com muito custo, consegui um desses acessórios de cachimbo, que tem uma espécie de agulha de ponta rombuda. Serve para dar um pouco de aeração ao fumo, para que pegue fogo. Foi com isso que consegui fazer um dreno na lateral da unha e a dor melhorou. Fiquei com aquele dedo latejando até a manhã seguinte, quando tive que ir para uma cidade próxima, em busca de uma pomada de penicilina para colocar no dedão. Por mal dos pecados, era um domingo de Páscoa e as cidades do interior estavam com tudo fechado. Foi uma áfrica achar uma farmácia aberta e mais ainda conseguir comprar uma pomada sem receita. A chatura do dedo era tão grande que perguntei a um médico amigo, tão logo voltei, como é que podia resolver essa agonia. Ele considerou que retirar a unha não ia adiantar muita coisa. Mas cortar o dedão era uma solução definitiva. É claro que estava brincando porque, na realidade, ele não tinha nenhuma solução para o problema. Solução que consegui depois de alguns anos de sofrimento e alguma pesquisa. Entreguei meu dedão às mãos altamente especializadas de João Milagres, que cuidou dele por bem uns dez anos. E que me fez a falseta de morrer, me deixando na mão. Ou melhor, no pé. Mas não por muito tempo, porque encontrei outra ótima profissional, Márcia, que tomou conta de mim como seu João tomava. Com um plus: me ensinou a usar Andriodermol na unha, o que acabou totalmente com o problema. Nunca mais tive qualquer tipo de infecção na unha do pé, resultado puro da falta de técnica das chamadas pedicures. Tenho ensinado a quem posso esse truque bem simples. O Andriodermol, que é um líquido usado para doenças de pele, tem uma outra serventia, que é amolecer as peles em torno das unhas do pé, facilitando sua remoção e impedindo que a unha fique encravada. Porque quando ela fica menos dura, não enterra na carne. A historinha parece bobagem mas é bem o reflexo de uma situação muito comum no Brasil, que raramente acontece em outros países. Por aqui, manicure tirar um bife no dedo da cliente, como se diz na gíria de salão, é tão comum que os médicos proíbem mulheres mastectomizadas de fazerem unha no salão. Porque a cutícula mal cortada pode infeccionar, com conseqüências bem graves para aquelas que não têm as glândulas linfáticas para defendê-las. Nos Estados Unidos, o problema de salões de manicure é tratado por órgãos ligados à saúde. Nos últimos tempos, a vigilância tem aumentado consideravelmente, porque tem crescido o número de pessoas que procuraram os serviços médicos em busca de cura para infecções provocadas por manicures e pedicures. Na realidade, as autoridades sanitárias dos EUA não consideram os salões seguros. Um ponto delicado refere-se à desinfeção dos aparelhos usados. Os médicos norte-americanos recomendam que, para evitar doenças sérias de contágio, como hepatite e Aids, a esterilização só não é suficiente. Os instrumentos usados nos salões devem ser desinfetados com soluções que matem as bactérias. Melhor ainda: que a usuária tenha seus próprios apetrechos, e que só faça unha com eles. Outra coisa proibidíssima nos Estados Unidos é o uso de lâminas de barbear para remover calosidades nos pés. Essas lâminas podem fazer cortes perigosos na pele, que se tornam um caminho seguro para infecções. As pessoas que têm problemas de circulação ou diabetes são particularmente afetadas. Lá, esse tipo de serviço é, inclusive, proibido pelos órgãos que cuidam da saúde da população. Só profissionais com licença para praticar medicina podem remover a pele de qualquer parte do corpo de uma pessoa. Mas não são poucos os salões que violam essas leis. As bacias onde os pés ou mãos são colocados podem ser agentes infecciosos. Principalmente se a pessoa tem qualquer tipo de corte. As bactérias são espertíssimas, só precisam de um quase invisível corte para encontrar seu caminho. Alguns salões que se preocupam em atender bem usam um saco plástico descartável para proteger a cliente do contato com a bacia, mesmo que ela seja desinfetada entre um uso e outro. Os médicos norte-americanos recomendam aos usuários de salões uma série de cuidados. Alguns são tipicamente americanos, como procurar saber se os atendentes do salão têm licença. Ou lembrar-se que é ilegal retirar calosidade dos pés usando lâminas de barbear. Ensinam que as cutículas só devem ser retiradas raramente, porque qualquer bife pode ser uma porta de entrada para uma séria infecção. Outra coisa é examinar bem a bacia antes de botar o pé de molho para a pedicure. Ela deve ser sempre desinfetada, entre uma cliente e outra. E quem tiver algum tipo de infecção na unha, que procure um médico. A infecção não é problema para ser resolvido em salão de beleza, mas por um profissional competente.
fonte: Coluna de Anna Marina - Jornal Estado de Minas de 06/02/2002