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Tesouro arqueológico

À procura dos "pais de Luzia"
Crânio de 10 mil anos, da mesma raça de Luzia

Celso Martins Repórter (fonte Jornal Hoje em Dia - 21/04/2001)

Uma equipe de 15 pesquisadores chefiada pelo paleontólogo Walter Alves Neves está preparando uma expedição para a região de Lapa Vermelha, entre Lagoa Santa e Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, na tentativa de encontrar os descendentes de Luzia, bem como os seus ancestrais. Luzia é o nome dado a um crânio de 11 mil anos, descoberto nessa região em 1975. A partir desse crânio, Walter Neves e sua equipe reconstituíram o rosto da mulher pré-histórica e colaboraram para desvendar as origens do povo americano. Foi um estudo que teve grande repercussão, não só no Brasil, mas também internacionalmente. Os novos trabalhos nas grutas e cavernas de Lapa Vermelha começam oficialmente no dia 15 de junho, quando será montada uma estação topográfica na região.
Um dos membros da equipe de pesquisadores, Luiz Piló Bethoven, já está no local fazendo os primeiros levantamentos sobre o meio ambiente e as condições topográficas nas grutas. A primeira parte dos trabalhos será realizada no Distrito de Cerca Grande, em Matozinhos, a 52 quilômetros de Belo Horizonte. A estação topográgica deverá ser instalada na Quinta do Sumidouro, em Pedro Leopoldo.
O antropólogo Walter Neves acredita na existência de um grande número de fósseis humanos e de animais pré-históricos já extintos nas cavernas da região de Lagoa Santa. Segundo ele, o maciço calcário da área favorece a fossilização das ossadas. “Só Lund (Peter Lund, arqueólogo dinamarquês que fez expedições em Lagoa Santa no século passado) descobriu cerca de 70 ossadas humanas, a maioria enviada para o Museu de Copenhague. Muitas outras ossadas foram encontradas por pesquisadores brasileiros e de outros países", disse Walter Neves em entrevista ao HOJE EM DIA.
Entre essas ossadas humanas, segundo Walter Neves, poderão ser localizados fósseis de épocas anteriores e posteriores à vivida por Luzia (daí chamá-los de seus “ancestrais" e “descendentes"). Descobertos esses fósseis, eles ajudariam a revelar mais detalhes sobre a raça negróide (a que pertencia Luzia), que viveu na região nesse período pré-histórico.
Um dos objetivos da pesquisa do paleontólogo Walter Neves será apurar como desapareceu de Lagoa Santa e região essa raça negróide e como foi o relacionamento (ou não) dela com os mongolóides que vieram a seguir e dominaram o continente. Esse é um dos mistérios que a Ciência ainda tenta desvendar. Entre as ossadas dos chamados “homens de Lagoa Santa", somente as mais antigas, com idade entre 11.500 e 8.000 anos, possuem características negróides, como explica Walter Neves.
A equipe que estará na região a partir de junho recolherá restos de fogueiras e fósseis. Serão feitas escavações nos locais onde foram encontrados o crânio de Luzia e outros fósseis, em um raio de 60 quilômetros. Todo material encontrado será levado para o laboratório da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo, que está custeando a expedição. Walter Neves faz parte do Laboratório de Estudos Evolutivos do Departamento de Biologia do Instituto de Biociências da USP.

Paleontólogo crê no sucesso da expedição

Até recentemente, acreditava-se que todos os povos indígenas encontrados pelos europeus nas Américas eram descendentes de mongolóides. Em 1998, Walter Neves levou para os Estados Unidos o crânio de Luzia, encontrado em Lapa Vermelha. Um ano depois, esse crânio foi refeito com material sintético e o rosto esculpido com argila. Terminado o trabalho de reconstituição, foi verificado que o rosto não apresentava características do grupo conhecido como mongolóide, mas sim de negróides. O crânio seria semelhante ao de um povo que migrou para América alguns milhares de anos antes da diferenciação dos grupos em caucasóides, negróides e mongolóides.
Segundo os pesquisadores, o número de negróides encontrados é bem menor do que o de mongolóides, o que seria uma indicação de que os primeiros chegaram aqui em número bem inferior. Walter Neves ressalta que não há como fazer deduções sobre essas densidades populacionais.
“Já se percebia que essa era uma população muito antiga e que possuía características diferentes dos indígenas atuais, que têm nítida descendência mongolóide. Mas antes imaginava-se que seria uma variação do grupo mongolóide, que teria sofrido uma diferenciação física por processo evolutivo, com mutações ao longo de milhares de anos", explicou. Além de Walter Neves, o estudo é assinado pelos professores Joseph Powell e Erick Ozolins, da Universidade do Novo México (EUA), além de André Prous, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“A expedição que será feita por Walter Neves vai ajudar a esclarecer o povoamento da América, dando mais suporte às teorias de cientistas que acreditam que a América já era habitada há mais de 45 mil anos - o que, até agora, não foi comprovado". A opinião é do paleontólogo Castor Cartelle, professor da UFMG, e que há 25 anos pesquisa o assunto. Segundo ele, todo material que for encontrado poderá esclarecer como eram as condições climáticas na região. Isso será possível, explica, através de exames em laboratórios com restos de fósseis de animais, podendo apontar como eram os seus hábitos alimentares.
Segundo Castor Cartelle, o crânio de Luzia, que está no Museu Nacional do Rio de Janeiro, é o mais antigo de um ser humano já encontrado na América. Luzia morreu quando tinha entre 20 e 25 anos. O rosto da moça era alongado, com os olhos arredondados - como o dos negróides, semelhante ao dos aborígines australianos - com o nariz largo, e bochechas e queixos salientes.
Cartelle também acredita que há uma grande chance dos pesquisadores encontrarem fósseis nas grutas, como ocorreu na década de 70. A expedição, que começa agora em 15 de junho, deverá durar cerca de 40 dias, terminando só no final de julho.


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