Troca de vôos para Confins só em março
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A transferência de todos os vôos da aviação regular do Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, para o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, marcada inicialmente para 1º de dezembro deste ano, foi adiada para 1º de março de 2004. A mudança foi confirmada ontem pelo secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Wilson Brumer, depois que o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), divulgou nota em que pedia o apoio do governador Aécio Neves (PSDB) à prorrogação da transferência por 90 dias. No documento, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) argumentou que o alongamento do prazo permitiria as adequações que a mudança exige.
Conforme a PBH, haveria três motivos para o adiamento. Um deles seria a necessidade de adequações viárias “emergenciais" nas vias de acesso da Capital à MG-10 - rodovia estadual que leva a Confins -, como as avenidas Cristiano Machado e Pedro I. Outro argumento da prefeitura foi o fato de dezembro coincidir com as férias escolares, o que aumenta o tráfego aéreo. “Por fim, o prefeito chama atenção para a necessidade, percebida através da imprensa e de contatos com entidades empresariais, de uma campanha mais ampla de esclarecimento sobre a decisão da transferência", finaliza a nota.
A nota da PBH foi divulgada à imprensa sem prévio aviso ao Governo do Estado, que apóia a transferência dos vôos da Pampulha para Confins como forma de se viabilizar economicamente a infra-estrutura aeroportuária inaugurada em março de 1984. O Aeroporto Internacional Tancredo Neves recebeu cerca de US$ 500 milhões em investimentos, mas segue subutilizado desde que, no início dos anos 90, as companhias aéreas passaram a oferecer vôos diretos entre os aeroportos centrais das capitais.
Na visão do Governo de Minas, a reativação de Confins deverá também impulsionar o projeto do aeroporto industrial - que abriga indústrias de tecnologia com incentivos fiscais à exportação -, que poderia alavancar um novo eixo de desenvolvimento da região metropolitana.
Em entrevista coletiva convocada para o início da noite de ontem, na sede da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Wilson Brumer evitou confrontar a posição da PBH. De acordo com o secretário, o Governo mineiro “vê com bons olhos" a preocupação do Governo municipal com melhores condições para os usuários do aeroporto.
Brumer disse que não seriam 90 dias que prejudicariam o projeto, e lembrou que o Governo estadual já liberou R$ 6 milhões para a PBH iniciar as desapropriações necessárias à duplicação da Antônio Carlos. Além disso, de acordo com o secretário, as obras de iluminação, adequação da sinalização e tapa-buraco da MG-10, orçadas em R$ 3 milhões, já começaram e estarão concluídas até 1º de dezembro. “O Estado já está fazendo a sua parte", sublinhou.
O secretário informou ainda que a licitação do projeto de duplicação da MG-10 já foi iniciada. As obras de ampliação da estrada e a instalação de passarelas para pedestres, contudo, não estariam concluídas até o final do ano, afirmou.


Setor hoteleiro diz que atitude foi provinciana

O recuo imposto pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) na transferência dos vôos da Pampulha, em Belo Horizonte, para o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, não foi bem recebido por representantes do setor turístico e dos trabalhadores nos aeroportos. “Uma atitude provinciana", reclamou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira de Minas Gerais (ABIH-MG), José Aparecido Ribeiro.
A expectativa do setor é de que a mudança - e a possível transformação do aeroporto internacional em um ponto de convergência de vôos - incremente a ocupação hoteleira e o turismo como um todo em Belo Horizonte e acelere o crescimento da cidade em direção ao terminal. “Vamos perder o trem da história outra vez. Isso demonstra a incapacidade que nós, mineiros, temos para tomar decisões e agir rapidamente. É lamentável", criticou Ribeiro.
O representante da hotelaria mineira classificou ainda a atitude como um desrespeito aos profissionais e entidades que se reuniram em Confins, no último mês de agosto, quando ficou decidida a mudança de vôos em 1º de dezembro. “Isso gera descredibilidade e não aconteceria em outra capital. Basta ver como as coisas acontecem em São Paulo, no Rio e mesmo no Triângulo Mineiro. A mentalidade dos nossos representantes é pequena e trabalhamos burramente em silêncio. Talvez por falta de conhecimento da importância do turismo, damos esse passo para trás", disparou Ribeiro.
Leandro Castro Pinheiro, diretor do Sindicato Nacional dos Aeroportuários, também criticou o pleito da PBH e refutou o argumento de que a transferência de vôos precisaria de mais comunicação. “Houve 13 audiências públicas, inclusive com a participação de deputados estaduais do partido do prefeito", afirmou. “A sociedade discutiu amplamente."
Independentemente da polêmica, o esgotamento do Aeroporto da Pampulha foi previsto para 2008 pelo Estudo de Demanda Detalhada do Instituto de Aviação Civil - órgão vinculado ao Departamento de Aviação Civil - feito em 2003. Com capacidade para 5 milhões de passageiros por ano, Confins recebeu 364,9 mil usuários no ano passado. O IAC não prevê limitações para a operação de Confins até 2023. (R.S. e M.C.P)

 

 Fonte : Jornal Hoje em Dia , de 19/10/2004
Rafael Sânzio
Repórter