Confins rende bons negócios
Aeroporto, que já foi considerado “elefante branco”, atrai agora os mais diversos tipos de empresários
O Aeroporto Internacional Tancredo Neves (Confins)se tornou palco de disputa de investidores em busca de novos negócios na área de comércio e serviços. O local, que no passado foi considerado um verdadeiro “elefante branco” por sua estrutura ampla e baixíssimo trânsito de passageiros, é visto atualmente de forma bem diferente por pequenos, médios e grandes empresários.  
Não é para menos. Dois anos depois da transferência dos 120 vôos da Pampulha para Confins, o aeroporto aumentou em dez vezes o movimento. Cerca de 10,3 mil passageiros passam diariamente por ali, sendo que em 2004 essa média era de apenas 1,1 mil. Levando-se em conta a população da redondeza e os funcionários do próprio aeroporto, a média diária de público dobra, ultrapassando 20 mil pessoas. Esse contingente de potenciais consumidores está levando muitas empresas a deixar os negócios na cidade e apostar em Confins.

De fatos, os números animam os empreendedores. O terminal de passageiros de Confins atendeu 4 milhões de passageiros no ano passado. A meta é ampliar esse contigente para 10 milhões ao ano. Migrar os negócios para o aeroporto, no entanto, requer disposição para pagar aluguéis que chegam a custar até dez vezes mais que na região central de Belo Horizonte. É preciso ainda disposição para abrir a loja todos os dias, incluindo feriados, em horários que geralmente começam às 6h e varam a madrugada.

O número de lojas em Confins passou de 18 (antes da transferência dos vôos) para 48 unidades. Empresários abriram farmácias, engraxatarias, bijuterias, lan houses, óticas, salão de beleza, galeria de arte e artesanato. Estão em fase de licitação ainda uma choperia, um posto de gasolina, perfumaria e rede de fast food. “O nosso projeto é criar uma grande praça de alimentação no segundo piso do aeroporto. Antes, não adiantava nem abrir licitação, pois não aparecia interessado. Agora, no caso da choperia, foram oito empresas que participaram do processo”, afirma José Wilson Bastos de Souza Massa, superintendente de Confins. O projeto do aeroporto é de concentrar a maior parte das lojas no segundo piso. “Antes, a gente tinha o espaço, mas não havia interessado. Nosso plano é expandir a área do varejo”, diz.

Maria Dalva de Sousa Gabriel acaba de abrir uma engraxataria no aeroporto, com a sócia Carla Augusta Nogueira Lima e Santos. Em dezembro de 2006, ela montou a Cabia Conforto Para os Pés, numa área de 20 metros quadrados. Investiu cerca de R$ 55 mil na loja. Paga um dos aluguéis mais baratos do aeroporto: R$ 2,5 mil, incluindo as taxas. “Ainda estamos pagando o investimento que fizemos. Mas esperamos que em três meses já esteja quitado”, diz.

A loja abre todos os dias das 6h às 21h, e engraxa de 40 a 50 pares de sapatos diariamente. Para pagar o aluguel, as sócias decidiriam criar novos serviços e agregar valor. Vendem também na loja produtos para massagem dos pés, manutenção de calçados, palmilhas e consertos. O preço para engraxar o sapato é quase o triplo do valor cobrado no centro da capital: R$ 7. Para botas, o preço é de R$ 10. É o valor do custo de ter a empresa em área suntuosa e sem concorrência.

Em duas lojas com área total de 80 metros quadrados, o empresário Bruno Fonseca Nogueira apostou alto em Confins. Em dezembro do ano passado, abriu a Aya Net Work Play, um centro de conveniência digital. A loja funciona como um escritório virtual para executivos, com fax, xerox, serviço de internet, digitalização, papelaria, venda de produtos de informática e entrega rápida de documentos. A família de Nogueira foi uma das pioneiras no serviço de lan house no centro de Belo Horizonte.

“Mas como o público é diferente, mais de executivos, agregamos no aeroporto mais serviços, além da internet”, diz Nogueira. A loja de Confins contou com investimentos entre R$ 110 e R$ 120 mil. O aluguel mensal é de R$ 10 mil, dez vezes maior que o cobrado em loja com o dobro do tamanho no centro de Belo Horizonte. “Por enquanto ainda estamos trabalhando no prejuízo. Mas acredito que vai melhorar nos próximos meses. No Centro, o custo é menor. Mas a concorrência é grande”, afirma Nogueira. Segundo ele, a tendência é que o movimento melhore a partir de agora. “O público de início de ano viaja de férias e não usa muito o nosso serviço”, diz.

A empresária Márcia Ferreira Alves já teve um salão de beleza na Savassi, pelo período de nove anos. No ano passado, decidiu abrir uma loja no aeroporto de Confins. Ela investiu entre R$ 70 e R$ 80 mil na loja, de 60 metros quadrados. Paga cerca de R$ 4 mil de aluguel, incluindo as taxas. O valor, diz, é semelhante ao que era pago na Savassi. “Está dando para sobreviver e fazer novos investimentos. Mas nossa loja fica de frente ao estacionamento e não tem entrada para os corredores principais do aeroporto. A partir de agora, vamos expandir o espaço e ficar com a porta ao lado das outras lojas. Acredito que o movimento vai melhorar”, afirma.

O salão de beleza tem nove funcionárias, todas da região de Confins e Lagoa Santa. Há alguns serviços diferenciados, como o kit banho. Por R$ 28, o passageiro pode tomar um banho e ganha uma escova de dente, pasta dental, xampu, condicionador, hidratante para o corpo, touca, chinelo e toalha. “No lugar de ir para o hotel, muita gente pode tomar o banho aqui mesmo”, diz Márcia.

Há pouco mais de um mês, a empresária Célia Cristina Caldeira inaugurou a Óptica Luminare em uma área de 60 metros quadrados. Ela já tinha tido uma ótica em Lagoa Santa, onde não pagava aluguel. Venceu a licitação em Confins e vai pagar entre R$ 7 mil e R$ 8 mil de mensalidade. “Mas o potencial de vendas daqui é dez vezes maior. Fizemos investimento semelhante ao de um shopping de classe A e B”, afirma Célia. O movimento nos primeiros dias de funcionamento da ótica, segundo Célia, está dentro das expectativas.

fonte: Jornal Estado de Minas - 26/03/2007 - caderno de Economia
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