"DROGAS"
É interessante traçar o limite entre uso e abuso
Regina Teixeira da Costa

É muito frequente a dúvida sobre o uso de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas. Todo pai se alarma quando descobre ou o próprio filho conta que experimentou maconha, álcool, cheirinho da loló, inalante manipulado à base de clorofórmio, bomba de anabolizantes para aumentar a musculatura na malhação ou medicação para emagrecimento.

Todas elas representam o risco de levar o sujeito à escalada das drogas. Um risco, mas não a certeza. Depende do sujeito: uns se apegam, outros não. De todas as drogas, a maconha é a menos nefasta para o organismo, porém causa dependência psicológica e marginaliza seu usuário – para obtê-la, ele alimenta o tráfico de drogas.

A droga mais temível é o crack, cujas consequências são arrasadoras, moral e fisicamente. Estamos diante de verdadeira epidemia. Os hospitais psiquiátricos, em extinção atualmente, e até mesmo os hospitais gerais com alas psiquiátricas não sabem como proceder diante da avalanche de dependentes recebidos. Verdadeiros fissurados.

Julgar viciado alguém que tenha contato com substâncias psicoativas é um equívoco. Só podemos chamar toxicômano quem faz dos efeitos da intoxicação o centro de sua vida e tem com a droga uma relação privilegiada entre todas as outras.

Por vontade de gozo, o sujeito se apaga numa bolha tóxica, fazendo do corpo organismo intoxicado. Abandona família, amigos, vida social e trabalho, desde que não abra mão dos efeitos da droga. Afasta tudo e todos. Restam ele e sua parceira, a droga.

É interessante traçar o limite entre uso e abuso. Qualquer um que use substâncias psicoativas lícitas ou ilícitas pode ser chamado de usuário. A compulsão e a fissura para consegui-las e a crise de abstinência configuram a toxicomania.

Temos exemplos: Janis Joplin, Marilyn Monroe, Elvis Presley. Mais recentes: Michael Jackson e Amy Winehouse. Todos eles interromperam a carreira de sucesso e a vida. Lutam contra a droga e a favor de manter seu gozo: Fábio Assunção e Vera Fisher.

Perdemos grandes gênios da música e de outras áreas, como Basquiat, artista plástico fabuloso de Nova York. Uma infinidade poderia ser aqui mencionada. Perdemos Amy, uma das maiores cantoras do nosso século. Nada escrevi sobre isso ainda. Disseram-me que o pai pretende manter uma casa de recuperação de viciados. Ele muito pelejou contra o vício da filha, que também lutou, embora com grande resistência. “Tentaram me levar para a reabilitação/ E eu disse não, não, não!”, afirma uma de suas canções.

Nós, psicanalistas, entendemos que a criança cresce e se estrutura no lugar onde é colocada pelos pais. A palavra deles tem papel importante na fixação e formação da subjetividade do filho. Permanece inconsciente, tornando o sujeito alienado de suas próprias motivações. É fixada no lugar onde foi colocada pelo outro.

Até no nome de batismo Amy Winehouse – sem saber – sabia o seu lugar. Podem achar que é psicologismo, mas wine significa vinho e house é casa. Ela foi a Amy da Casa do Vinho: ao pé da letra, seguiu trágico destino, afogando-se no álcool e morrendo por ele. Deixou muito lamento, o rastro de tristeza e a certeza de que se apagou uma grande estrela.

É como cantou Cazuza: “Meus heróis morreram de overdose/ Meus inimigos estão no poder”. De fato, a vontade de gozo mortífero devora pessoas de quem sempre sentiremos saudades. Seremos privados de sua genialidade. Talvez por admirar muitos desses ídolos, tenha falado pouco sobre eles. Hoje me deu saudade de Amy. Caso ela ainda vivesse, poderia compor, gravar e lançar, com seu vozeirão, muitas músicas para a nossa alegria.
Regina Tiixiera da Costa
Publicação: 02/10/2011 Jornal Estado de Minas
Ilustração:arquivo da www.lagoasanta.com.br

fonte: Jornal Lagoa Santa Notícias - 19/10/2007
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