Com trilhas reestruturadas, visitante é premiado, depois de dois quilômetros de caminhada, com a deslumbrante visão do mirante
PARQUE DO SUMIDOURO
A nova cara da era das cavernas
Área que conquistou fama mundial com descobertas de fósseis humanos e de grandes mamíferos ganhará trilhas suspensas, centros para visitantes e toda uma estrutura digna de sua importância
Paulo Henrique Lobato

A Minas Gerais da pedra lascada, como também é conhecido o Parque Estadual do Sumidouro, em uma área de 2.011 hectares no limite de Lagoa Santa e Pedro Leopoldo, ganhará atrações e uma estrutura digna de sua importância para o planeta. Boa parte dos mineiros não sabe, mas foi naquele pedaço de terra da Região Metropolitana de Belo Horizonte que o dinamarquês Peter Lund (1801-1880), considerado o pai da paleontologia no Brasil, fez diversas de suas descobertas. Também foi por aquelas bandas que pesquisadores desenterraram, na década de 1970, o crânio de Luzia, nome dado pelos cientistas à mulher que viveu por ali há cerca de 11,5 mil anos – o fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas. As novidades no parque – projetos e obras – vão custar ao estado, por meio do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e de outros órgãos, R$ 35 milhões.

Algumas inovações serão apresentadas ao público até o fim de maio, mas a maior parte da nova estrutura será concluída no primeiro semestre de 2010. O investimento é importante para proteger o Sumidouro e entorno, onde estão cadastrados 157 sítios arqueológicos e 35 grutas. O decreto que criou o parque foi publicado em janeiro de 1980, mas somente agora, quase 30 anos depois, a área começa a receber intervenções à altura de sua fama, que já ultrapassou as fronteiras do país. O ponto de partida serão regras de uso do espaço público, que estão sendo elaboradas por técnicos do IEF.

“A expectativa é de que tenhamos, no próximo mês, o regulamente mínimo”, diz o gerente da unidade de conservação ambiental, Rogério Tavares. Ele adianta que uma das mudanças é a proibição da prática de acampamentos no parque, diante da atitude de visitantes que sujavam a lagoa que tem o mesmo nome da unidade e danificavam atrações milenares. “Às vezes, nos deparávamos com vários pontos brancos na lagoa. Não eram garças, mas sacolas plásticas”, relata. Parte das barracas era montada no sopé do paredão do mirante, onde há pinturas rupestres de cerca de 4 mil anos que também foram alvo dos vândalos que danificaram várias delas, inclusive com pichações.

Diante dos abusos, a direção proibiu a visitação no Sumidouro em setembro passado. Desde então, estão interrompidas atividades como o uso da lagoa, prática de rapel e escalada, passeios a cavalo ou caminhadas pela mata. As exceções são as visitas à Gruta da Lapinha e a uma área restrita que margeia o espelho d’água, atrações que continuaram abertas. Nesses sete meses em que o acesso ao Parque do Sumidouro está limitado, o IEF iniciou obras importantes e programou novas atrações, que serão lançadas em 17 de maio, por ocasião de mais uma etapa de caiaques da expedição promovida pelo Projeto Manuelzão, da UFMG, na bacia do Rio das Velhas, que corta a região.

A novidade será a implantação de três trilhas temáticas. A primeira, chamada Circuito da Lapinha, é uma visita à parte externa e ao interior da famosa gruta, cuja extensão chega a 511 metros e onde há salões que somam perto de 600 milhões de anos. “O turista conhecerá fauna e flora, além da dinâmica da formação da caverna”, diz o gerente Rogério Tavares, que não esconde o otimismo com os projetos. O segundo roteiro, batizado de Circuito Sumidouro, terá dois quilômetros e permitirá ao visitante percorrer belas paisagens, como o paredão das milenares pinturas rupestres. A atração será vista de um recém-concluído deck de madeira.

DENTES-DE-SABRE Também será nessa caminhada que o turista chegará ao mirante do parque e, certamente, se encantará com a vista da lagoa e do rico cerrado da região. Parte do trajeto será feito em passagens e escadas erguidas com eucalipto imunizado, estrutura que, além de facilitar o deslocamento, protege o solo e a flora. Nesse percurso, o turista passará próximo à Gruta do Sumidouro, onde Lund fez descobertas importantes para a ciência mundial. “Nas escavações, ele encontrou evidências da convivência do homem com grandes mamíferos da região. Espécies como a preguiça-gigante e o tigre-dentes-de-sabre habitaram a região há cerca de 10 mil anos”, acrescentou o ambientalista.

O último circuito é uma travessia entre a Gruta da Lapinha e a Lagoa do Sumidouro. São 3,5 quilômetros de caminhada. Operários ainda trabalham nas trilhas e na estrutura no entorno. Alguns constroem bancos de madeiras. Outros reformam instalações, como a antiga fazenda Sobrado, próximo à lagoa, que ficará pronta em maio. O imóvel foi desapropriado e será transformado num alojamento para pesquisadores. Dez estudiosos poderão usar as dependências simultaneamente. A administração do parque estuda a viabilidade de adaptar outras fazendas do parque para que se transformem em hospedagens.

As mudanças no Sumidouro são elogiadas por quem conhece o parque, principalmente ambientalistas. É o caso de Procópio de Castro, presidente do Subcomitê de Bacia do Ribeirão da Mata/Manuelzão. “É uma região de patrimônio com grife internacional. Essa iniciativa significa tentar levar para o futuro o que vem de mais ou menos 15 mil anos.”

  Paulo Henrique Lobato
fonte: Jornal estado de Minas - 19/05/2009
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